domingo, 26 de junho de 2011

ABORDAGEM INFORMACIONAL (Edson Paim & Rosalda Paim)


EXTRAÍDO DO LIVRO:



SISTEMAS, AMBIENTE
& MECANISMOS DE CONTROLE




               SISTEMISMO ECOLÓGICO CIBERNÉTICO INFORMACIONAL


                                                            1a. Edição


                                                

Edson Paim

Rosalda Paim


CAPÍTULO V

                        VIDA, INFORMAÇÕES, ENTROPIA E NEGENTROPIA

                                    (ABORDAGEM INFORMACIONAL)

A abordagem informacional privilegia o estudo dos circuitos de informação e comunicação que integram e permeiam qualquer sistema, quer  seja de natureza física, biológica, tecnologia ou social, incluindo seus processos internos e suas relações com o ambiente.

Tal ponto de vista se fundamenta na Teoria da Informação.

A teoria da informação ou Teoria Matemática da comunicação é um ramo da teoria da probabilidade e da matemática estatística que lida com sistemas de comunicação, transmissão de dados, criptografia, codificação, teoria do ruído, correção de erros, compressão de dados.  (Wikipédia).

A Teoria da Informação não deve ser confundida com a tecnologia da informação e nem com a biblioteconomia.

A ideia de dinamismo, de movimento, de processo, de “fisiologia”, que o Sistemismo encerra, é reforçada pelo concurso da Cibernética (integrante da Teoria Geral dos Sistemas) e pela Teoria da Informação (tributária da Cibernética).

A abordagem informacional corresponde ao quarto degrau ou etapa do processo da construção da metodologia Sistêmica Ecológica Cibernética Informacional, a qual poderia designada, apenas, Sistêmica Ecológica Cibernética, porque, na realidade, a Cibernética já albergaria, no seu próprio âmbito, a Teoria da Informação.

Entretanto, preferimos utilizar a primeira hipótese, a fim de expressar a presença de todos os quatro componentes da metodologia construída.

Apesar de concordarmos que a Teoria da Informação já integre a Cibernética, julgamos conveniente lhe atribuir, para fins operacionais, uma identidade própria, pois sua amplitude se avulta como participante do conjunto de ciências da complexidade.

Colocamos a Teoria da Informação em nível de igualdade com a Cibernética, no momento da elaboração da Perspectiva Cibernética Informacional (Capítulo anterior), acompanhando Morin1, que a dispõe ao lado da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética, a fim de constituir o que ele denomina “Trindade  Profana”.  

Segundo Francelin2, “Aceitando-se o objeto de estudo da ciência da informação em seu contexto, talvez não seja tarefa difícil detectar a relação entre a "Trindade profana" proposta por Morin (1999a) e a ciência da informação. São três teorias já conhecidas da ciência da informação que fazem parte desta Trindade": a teoria de sistemas, a cibernética e a teoria da informação.

Vale lembrar que Morin3 (1999a) reputa, à função da teoria de sistemas, da cibernética e da teoria da informação, uma possível via de entendimento de mundo que considera complexo, não suas relações, pois isto não seria possível devido às limitações da capacidade humana e dos fenômenos inexplicáveis propostos pela natureza, mas sim analisar a complexidade que permeia estas relações.”

O que talvez Morin4 (1999a) queira esclarecer por meio destas três teorias é que a informação, como a própria ciência da informação a entende, esteja presente em quase todas as fases da auto-organização de mundo proposta pelo autor e justamente naquilo em que a ciência da informação talvez não conceba tal ocorrência, ou seja, no ruído da mensagem entre emissor e receptor através de um canal, "[...] (ordem a partir do ruído), não apenas da desordem, mas a partir do ruído" (Morin, 1999a, p.29).

Ainda,  Francelin5 refere: Portanto, parece ser interessante à ciência da informação uma aproximação do instinto formativo bachelardiano da complexidade morinana e sua "Trindade profana" (teoria da informação, cibernética e teoria de sistemas), pois entende-se que este possa ser o caminho para possível compreensão de determinados contextos de complexidade que possam envolver a atividade informacional.”

A Teoria Geral dos Sistemas, a Cibernética e a Teoria de Informações se complementam entre si e se conjugam no trato de fluxos informacionais e mecanismos de regulação e controle, constituindo, cada um componente desta tríade, aspecto relevante no processo de construção do Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional. 

Estas três ciências, acrescidas da Ecologia, são as componentes essenciais, ou melhor, podemos afirmar que estes ramos do conhecimento constituem os quatro pilares principais do construto de nossa autoria - Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional  (Capítulos X a XII).

As informações estão na base da todos os mecanismos de controle, além de permear todas as três ciências já referidas (Teoria Geral dos Sistemas, Ecologia e Cibernética), influindo na totalidade dos processos biológicos e sociais. 
       
      O sistema humano, como outros sistemas vivos, em seu processo de integração, tem necessidade, dentre outros fatores, de comunicações e da informação, as quais consomem, desperdiçam e degradam energia.

A informação, contida no código genético, permeia todos os organismos vivos, alcançando quaisquer dos seus processos interiores (estruturais ou fisiológicos) e a totalidade das suas relações com o ambiente.

Em qualquer processo de transmissão de mensagens, há possibilidades de equívocos, tais como erros de codificação, de emissão, de transmissão, de decodificação, ou perturbações várias, decorrentes da interferência de ruídos ou de outros fatores mecânicos.
          
“Foi esta observação que deu ensejo à teoria matemática da informação (SHANNON & WEAVER, The Mathematical Theory of Communications, 1949): Shannon observou que uma mensagem enviada através de um canal qualquer sofre deformações diversas durante a transmissão, razão pela qual, ao chegar ao destino, uma parte das informações que continha já está perdida. Estabeleceu, assim, a analogia entre esta perda e a entropia, função que, com base no segundo princípio da termodinâmica, exprime a degradação da energia que se verifica em qualquer transformação de trabalho mecânico em calor, ao passo que a transformação inversa (do calor em trabalho mecânico) nunca é completa.6”

A partir da analogia entre a perda de informação e a entropia, se tornou possível estabelecer que a quantidade de informações, transmitidas, poderia ser calculada como entropia negativa.

Na transmissão das mensagens, semelhantemente ao que acontece na transformação de qualquer modalidade de energia em outra, a entropia negativa (negentropia) decresce continuamente porque a positiva (perda de informações ou degradação de energia) cresce continuamente.

 “Com base nessa analogia, o calculo das possibilidades, utilizado pela termodinâmica pode ser empregado como instrumento muito oportuno para determinar as fórmulas com que a medida da quantidade de informações pode ser expressa em cada caso, cujas variações dependem do número e da freqüência dos símbolos utilizados, de sua possibilidade de combinação, da interferência dos fatores de perturbação dos símbolos e assim por diante. Nesse último caso, toma-se em consideração os símbolos chamados redundantes, cuja finalidade é prever e corrigir os erros de transmissão antes que ocorram, de tal modo que o funcionamento da transmissão seja corrigido antecipadamente pela previsão das perturbações com o processo de retroalimentação7” .

Quanto mais improvável é uma mensagem, maior é a carga de informação que ela transmite. Daí ter-se uma quantidade mínima de informação quando esta permite apenas uma escolha entre duas possibilidades que tenham a mesma probabilidade.

 Tal quantidade mínima foi estabelecida como unidade de medida de informação e designada bit (abreviação da expressão inglesa binary digit = cifra binária).

A energia do universo tende a se distribuir no sentido de um  maior nivelamento, em sua forma mais degradada, anárquica, caótica, indiferenciada, equilibrada e mais estável possível, designando-se esta característica com o nome de entropia.

O termo entropia foi criado por Clausius8 (l850), estribado no segundo princípio da Termodinâmica, com a finalidade de  denotar a tendência da totalidade dos sistemas, no sentido do resfriamento ou nivelamento energético, da desorganização, da indiferenciação e catamorfose, da mesmice e do caos, enfim, da morte.

A Termodinâmica estuda a energia, sua transferência e condução, bem como os efeitos destes processos em um sistema determinado e no seu ambiente.

Entropia é a medida da perda das características que fazem com que um sistema se diferencie do seu ambiente.

“Entropía es el grado de desorden, el equilibrio máximo en el cual no se puede haber cambios físicos ni químicos, ni se pude desarrollar ningún trabajo y donde la presión, la temperatura y la concentración son uniformes e irreversibles en todo el sistema. Solo los sistemas en desequilibrio pueden desarrollar trabajo.9”

Consoante o princípio da unidade da energia, uma modalidade de energia pode ser transformada em outra.

“De acuerdo con la  primera ley de la termodinámica, en cualquier proceso el total de energía de un sistema más la de alrededores permanece constante. Sin embargo la energía puede sufrir transformaciones de una forma a otra, como lo son, el calor, la luz, la electricidad, la energía mecánica y la química. La segunda ley de la termodinámica limita los tipos de transformación de energía y predice la dirección en la cual dichas transformaciones deben ocurrir, desde un punto de vista estadístico, en cualquier proceso químico o físico. La segunda ley de la termodinámica establece que, en los sistemas cerrados, todo procede en la dirección del máximo equilibrio entre el sistema y sus alrededores (el universo). A esto se lo conoce como aumento de la entropía. Entropía es el grado de desorden y  de caos.10”

Há uma tendência universal para os estados de maior degradação: catamorfose, indiferenciação, um direcionamento para baixo (resfriamento, nivelamento energético, desorganização, caos), enfim, a “morte entrópica”, incluindo a morte dos sistemas vivos.

Mario Chaves11 diz que Gibbs formulou a teoria de que essa probabilidade tende naturalmente a aumentar, acompanhando o envelhecimento do Universo e que a medida dessa probabilidade é designada entropia.

Existe, pois, uma tendência universal característica da entropia, a de aumentar continuamente, no sentido de estados de maior degradação: catamorfose, indiferenciação, tudo sendo direcionando para baixo (resfriamento, nivelamento energético, desorganização, caos), enfim, a “morte entrópica”, incluindo a morte dos sistemas vivos, sendo esta tendência designada com o nome de entropia, a qual teria a probabilidade de aumentar com o envelhecimento do universo.

A medida de tal probabilidade é designada entropia.

Em razão dessa tendência de aumento contínuo e permanente da entropia, pode se afirmar que o estado mais provável do planeta Terra é o seu total resfriamento.

Tal já aconteceu com Marte, cujo estado atual equivale a um exemplo patente dos efeitos da ação da entropia, desenvolvida através de bilhões de anos.

Um dia, em passado longínquo, Marte teria apresentado as condições climáticas semelhantes às existentes, hoje, na Terra, uma vez que o estado mais provável, de ambas, é o resfriamento total, assim como o estado mais provável da vida é a morte e, o estado mais provável da administração é o caos.

 “No universo como um todo, o estado mais provável é o caos, a quiescência, a desorganização, a morte entrópica, a catamorfose. O estado mais provável da terra é a nivelação, as montanhas destruídas pela erosão, os rios correndo para o mar e levando com eles a substância das montanhas pela gravidade. O estado mais provável do sol é o apagar-se depois que todas as reações possíveis, as explosões atômicas das quais a terra deriva sua energia tenham ocorrido, simplesmente porque a probabilidade de sua ocorrência vai aumentando com o passar do tempo. Embora o apagamento do sol esteja a bilhões de anos pela nossa frente, não poderemos deixar de pensar em nós mesmos, usando a brilhante expressão de Wiener, como náufragos no espaço confinados a um espaço condenado. 12”

Mas, neste Universo físico, tendente para os estados de maior entropia, indiferenciação, catamorfose e mesmice, eis que em determinado instante, num passado longínquo, eis que surge uma contra corrente à lei geral da entropia - a Negentropia - e a Terra primitiva se transforma em um enclave negentrópico, no âmbito do cosmo.

Nela a entropia tendeu para a diminuição, desenvolvendo-se uma situação de anamorfose, diferenciação e organização da matéria, surgindo a vida e, iniciando-se um formidável e belo "show" planetário.

“La materia viva ha evolucionado de la materia inerte. La materia inerte renueva continuamente los sistemas de materia viva al fluir por ellos, debido al consumo continuo de energía. 13”

Os sistemas vivos constituem sistemas auto-organizadores, auto-reguladores e auto-reprodutores, dotados de mecanismos de “feedback”,  portanto homeostáticos, cibernéticos.

 “A vida é o conflito do singular contra o universal; do desequilíbrio de cada sistema (em relação com seu entorno) contra o equilíbrio máximo; do esforço para manter instável com relação à máxima estabilidade a que tende a natureza; da diferenciação contra a indiferenciação; da ordem contra o caos e da sistematização contra a anarquia... A vida representa a evolução da matéria do estado mais provável para o estado mais improvável... a matéria e a energia se movem simultaneamente a favor e contra a vida... O organismo do ser humano, igualmente a  todos os sistemas de matéria viva, composto por duas ou mais células, constitui uma sociedade de células. 9”

O ser humano representa um sistema, maravilhosamente construído, com muitas partes distintas interligadas e inter-relacionadas, capazes de contribuem de várias maneiras para a sustentação de sua vida, para a consecução do seu processo reprodutivo e de suas demais atividades, cujo mecanismo de controle, de regulação, com a finalidade de manutenção da homeostasia, é o dispositivo cibernético denominado “feedback”.

Sua importância é ressaltada pelas afirmações de Hans Reinhard Rapp15, citado por Marcelo Azevedo16 "que quando o primeiro processo de feedback foi construído pela evolução começou a vida" e, quanto à oposição entre entropia e negentropia, repetimos a frase lapidar de Aurel David17, mencionada pelo mesmo autor: “... Mas a matéria vinda dos alimentos passou para o campo da vida e luta com ela contra o resto da matéria. …Quer se trate de órgãos vivos ou bens manufaturados, a matéria que os constitui deixa localmente o curso da entropia para seguir a nossa via.”

Aqui encontramos a mais expressiva manifestação da luta, do antagonismo entre a matéria viva e a matéria inerte, a mais significante constatação da relação dialética entre o ser vivo e o ambiente circundante, bem como a mais magistral maneira de expressar da incorporação dos alimentos à massa corpórea do ser vivente.

O surgimento da vida na terra é um evento ocorrido no sentindo inverso ao da entropia, portanto, um acontecimento  com caráter de improbabilidade.

 “Existen, sin embargo, sistemas que se oponen - aunque solo de manera transitoria - a este fluir de la naturaleza que se dirige de la luz y el orden al caos y a las tinieblas. Estos sistemas son los organismos compuestos por materia viva, que constituyen solo una ínfima parte de la materia y energía del cosmos y que, hasta donde se sabe, solo existen en el planeta Tierra. Este a su  vez está formado por una pequeñísima porción de la materia existente. 18”
.       
          A vida corresponde a uma contra corrente à lei geral da entropia, existindo um conflito permanente entre o ser vivo e o ambiente que vive, compreendido o sistema ambiental como o somatório de seus quatro componentes: o subsistema físico, o subsistema biológico, o subsistema social e, mais, o subsistema tecnológico.
 
“La vida es una enfermedad incurable y una lucha contra la entropía. La medicina es una actividad del ser humano que trata de mantener la integridad de la estructuración y el desequilibrio del organismo humano, como sistema compuesto por materia viva, en contra la tendencia de la naturaleza a la entropía máxima, al equilibrio energético, a la in diferenciación, a la estabilidad y al caos.19"

A fim de se opor, temporariamente, à ação inexorável da entropia, o homem tem a necessidade de aplicação, contínua e permanentemente, de forças antientrópicos (negentropia), tanto com relação à vida e a saúde, como no que tange aos processos administrativos e às máquinas e, mesmo, ao próprio sistema social global.

A Negentropia, cujos sinônimos são: neg-entropia ou anatropia, neguentropia (entropia negativa = entropia com o sinal invertido), contra-entropia, antientropia, ou ainda, entalpia, significa o movimento da energia no sentido de mais informação, maior organização, mais vida, saúde, progresso e aumento da complexificação, de um determinado sistema.    

Ao longo do processo evolutivo, os seres vivos, agindo uns sobre os outros, integrando o próprio ambiente ou ecossistema (biótopo e biocenose) mantém a sua transformação recíproca.

A interação e os conflitos entre os seres vivos e o ambiente - ambos, sistemas auto-organizadores, auto-reguladores e auto-reprodutores - direcionaram os processos da evolução e da diferenciação das espécies.

Num passado longínquo, chegou-se a fase de hominização, produzindo o homem, cuja dimensão espacial é o corpo e, temporal, a longevidade e a historicidade e, como ápice da evolução biológica, surgiu a consciência.

A origem da vida, a construção do código genético, os mecanismos da reprodução, todo o processo evolucionário, a diferenciação das espécies, a manutenção do equilíbrio dos organismos vivos (homeostasia), a aquisição dos mecanismos da consciência e da linguagem são processos negentrópicos.

Estes processos, direcionados pelas potencialidades ou “virtuosidades da própria matéria”, como preconizam autores materialistas ou mediante ações de uma grande consciência, preexistente, segundo propugnam outros (os idealistas) e, cuja controvérsia é a questão fundamental da filosofia, não discutida, aqui, até porque tal assunto se traduziria através da metáfora, expressa na pergunta:

“Qual dos dois surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?”.

Todavia, se a organização da matéria, tanto como o surgimento da vida, tenha sido resultado de potencialidades ou virtuosidades intrínsecas da matéria e, inscritas no seu próprio âmago, como preconiza Engels ou, decorrentes da vontade e ações de uma consciência superior e transcendental, como postulam outros.

Pelo menos, com objetivos operacionais (e o fazemos neste trabalho), poderíamos atribuir a designação de Negentropia a essa “força” ou energia, a esse princípio ou poder organizador,  seja qual for sua origem, se endógena ou exógena, se intrínseco ou extrínseco, em relação à matéria.

A Negentropia seria uma força apta a representar a síntese de todas as modalidades de energia, sejam conhecidas ou desconhecidas, a qual teria presidido a organização da matéria e sua evolução “desde o mineral até a consciência”, na feliz expressão de Pierre Teilhard Chardin. 15

Com fundamento na lei de transformação da energia (uma modalidade desta pode ser transformada em outra), seria possível, ao menos, operacionalmente - e, para os fins específicos deste trabalho - considerar a Negentropia como um elemento unificador (síntese) de todas as modalidades de energia, conhecidas ou não.

Com referência ao surgimento da vida e ao curso da trilha da evolução, ao processo de hominização (antropogênese) e a sociogênese, não é possível precisar os seus limites, nem o futuro da humanidade e, nem mesmo, se cogitar a respeito, pois isto ultrapassa quaisquer possibilidades de previsão e, até de imaginação.

É esta ação negentrópica que reproduz e, conserva, ainda que, temporariamente, a vida dos animais e dos vegetais, promove a evolução biológica, assim como, mediante a sua expressão em trabalho humano, processa toda a organização e evolução social, científica e tecnológica, em contraposição aos inexoráveis efeitos da entropia.

“La vida es lucha contra la entropía. Esta lucha que es parte del fluir de la materia y la energía en el cosmos, se lleva a cabo en la naturaleza de la cual todo forma parte. Es posible que sólo se limite a nuestro pequeño planeta, que gira silenciosamente en el espacio infinito de una noche eterna. La energía del universo tiende a distribuir-se en todo el espacio en busca del equilibrio, de la mayor estabilidad, de la mayor dispersión y probabilidad posibles, lo que da lugar al grande desorden, a la mayor redistribución, al caos y la entropía máxima.20”      

Cada célula de um organismo multicelular constitui um sistema, situado no seu ambiente - o espaço intercelular - com o qual efetua intercâmbios de matéria, energia e informações,  estabelecendo uma luta constante contra a entropia e, mediante mecanismos cibernéticos de “feedback” procura manter o maior nível de homeostasia, permissível pelo seu potencial genético.

“En cada célula se resumen las tres funciones fundamentales de la materia viva que son: el metabolismo, la reproducción y la adaptación.  Cualquier sistema que metaboliza  y se perpetúa está compuesto por materia viva. Desde este punto  de vista, los virus son sistemas - compuestos de materia viva   - aun más simples que las células. Todas las funciones de la célula, como organismo compuesto por materia viva, significan movimiento, transformación, flujo y recambio constante de materia en el sistema para lo cual se requiere un aporte continuo de energía. Las funciones metabólicas son la nutrición, la respiración y la síntesis de compuestos; de ellas depende la integridad de la célula, como sistema, durante su lapso vital.21"

Ao longo do processo evolutivo, os seres vivos (sistemas auto-organizadores, auto-reguladores e auto-reprodutores), agindo uns sobre os outros, integrando o próprio sistema ambiental ou ecossistema (biótopo e biocenose),  mantém  a sua transformação recíproca.

Se considerarmos o ser vivente como tese e, o conjunto   espaço-temporal (ambiente e tempo) como antítese, a síntese será a vitória inexorável dessa dupla sobre cada ser vivo, resultando na morte (síntese).

É possível, entretanto, fazer outra assertiva, igualmente verdadeira, em que o par dialético - vida (tese) e morte (antítese) resulta na evolução (síntese), - colocando, pois, a própria morte, a serviço dessa evolução, caracterizando a Dialética dos Sistemas Vivos e a Dialética Cibernética, proposta pelos autores, o que pode ser expresso através do:

                   Princípio Tanatoteleonomia

            A morte é a resultante da predominância absoluta das ações entrópicas sobre as negentrópicas nos sistemas auto-organizadores e auto-reguladores e representa um dispositivo de retroação ("feedback") dos sistemas vivos, cuja teleonomia é possibilitar a manutenção da cadeia alimentar, do equilíbrio ecológico e o desenvolvimento do ciclo da matéria, restituindo-a ao estado de indiferenciação, como constituinte do sistema físico, além de assegurar o processo de diversificação das espécies, constituindo o motor  da evolução biológica.

No bojo deste Princípio estão contidos, ao mesmo tempo, fundamentos da dialética e da cibernética, cuja justaposição permitiu a proposta da Dialética Cibernética.

“Por medio de la oxidación los compuestos orgánicos  liberan energía y, a su vez, la oxidación significa envejecimiento y aumento de la entropía de dichos sistemas. La oxidación es necesaria para la vida y, al mismo tiempo, significa la muerte. En esto sentido, nos dice Laborit: “Resumiendo, las oxidaciones tendrán el envejecimiento por consecuencia. No es, pues, ilógico decir, que el oxígeno es el tóxico esencial a la vida... Se llega, pues, a un dilema: una forma de vida perfeccionada como la nuestra tiene necesidad de los procesos oxidativas y del oxígeno molecular; pero esos procesos son, sin duda, la origen del envejecimiento y de la muerte. La eternidad o la sumisión al medio, o la libertad y la muerte. En el punto de evolución biológica a que hemos llegado, es evidentemente difícil de imaginar una solución que nos permita conservar la vida y la libertad sin oxígeno.22"

A capacidade que tem o homem de atuar e transformar seu próprio sistema ou seu ambiente constitui trabalho.

O trabalho, tanto de natureza muscular como intelectual, corresponde ao movimento da matéria, energia e informações e constitui a base de toda atividade econômica.

Há uma constante transferência de entropia de um sistema para outro ou para o ambiente e vice versa.

O ser humano, igualmente a qualquer sistema biológico, sofre um desgaste ou deterioração ao transformar energia em trabalho, ocasionando, pois um aumento da entropia em seu organismo.

O homem, ao atuar sobre a matéria, a fim de transformá-la em objeto, acrescenta-lhe negentropia, diminuindo a entropia deste, enquanto a negentropia do corpo do trabalhador fica diminuída, em razão da transferência para o objeto trabalhado e, conseqüentemente, a entropia do organismo humano se torna aumentada.

Quando nem o equivalente da negentropia, despendido pelo corpo do trabalhador for reposto, mediante o salário recebido, se caracteriza a mais expressiva autêntica forma de “mais valia”.

Se o estado entrópico, decorrente do trabalho, não for neutralizado, mediante a reposição de negentropia, ou entropia negativa, resultará na fome, pobreza, miséria, doença e morte.

“Las enfermedades, tanto las físicas como mentales son... manifestaciones de entropía dentro del sistema-organismo-humano que tiende, en mayor o menor grado, a su caos o anarquía. La curación significa buscar los mecanismos de aporte energético que permitan el desequilibrio, ya que la muerte significa el equilibrio con el universo.23"

A referência supra, ao equilíbrio com o Universo significa  a involução da matéria viva até o seu nivelamento com a matéria inerte que corresponde à maioria da constituição do universo.

“La materia viva existente incluye una parte ínfima de la totalidad de la materia inerte que hay en el universo.24"

As ações de saúde correspondem a um conjunto de medidas, capazes de possibilitar a transferência de negentropia do ambiente (sistema de saúde) para o corpo da pessoa assistida, objetivando manter o desequilíbrio deste, com o Universo, já que o verdadeiro equilíbrio com a matéria inerte corresponde à morte.

O enfermeiro, o médico, bem como outros profissionais, situados no sistema de saúde, portanto no ambiente da pessoa assistida, transferem negentropia do sistema de saúde (ambiente) e, conseqüentemente, também, do seu próprio corpo, para o do  paciente, a fim de neutralizar ou minimizar a sua condição entrópica, correspondente ao  processo mórbido.      

“La medicina pretende mantener funcionando correctamente los mecanismos, que el mismo organismo humano utiliza, para permanecer diferenciado y en desequilibrio con el medio ambiente, para continuar vivo, y eliminar todo aquello que agrede y amenaza la integridad y la estructura del organismo.25”

Os processos de informação e comunicação contribuem para a diminuição da entropia no interior do sistema social, à custa do ambiente, cuja entropia é aumentada.

O aporte de negentropia no organismo humano e no sistema social, como um todo, corresponde a um aumento da entropia do ambiente.

“Los sistemas compuestos por materia viva (organismos e sociedad) negativizan su entropía “robándole” entropía negativa a sus alrededores, ya que así mantienen su orden y su desequilibrio ocasionando desorden e equilibrio en el medio que los rodea. Se introduce una cantidad de entropía negativa de fuera hacia a dentro del sistema compuesto por materia viva.26

A entropia dos sistemas vivos é neutralizada através da reposição de negentropia ou entropia negativa - expressões que se equivalem - mediante a sua extração do ambiente.

Há uma interação entre os sistemas vivos e o sistema ambiental, constituindo uma totalidade em que ambos se afetam mutuamente, correspondendo a um processo integrativo, em que um é parte do outro, formando, na realidade, um novo sistema de maior amplitude, de natureza mista: o sistema vivo/ecossistema.

Face à sua importância do antagonismo entre a Entropia e a Negentropia, o tema será complementado nos Capítulos VII - Cibernética dos Sistemas Vivos, VIII - Dialética dos Sistemas Vivos, IX - Dialética Cibernética e X - Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional.

Os dois capítulos seguintes (XI e XII) relacionam e apresentam os enunciados dos princípios da perspectiva sistêmica ecológica cibernética informacional, que corresponde ao objeto precípuo deste livro.

O último capítulo (XIII) aborda um utópico sistema social que se convencionou designar como “Sociedade Cibernética” por enfatizar, sobretudo, a presença de mecanismos regulatórios, ou cibernéticos, passiveis de disciplinar uma sociedade equilibrada, aberta, democrática, humana, justa e integrativa, apta para garantir um padrão mínimo de qualidade de vida a todos os seus cidadãos. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO V

1-      Morin, E. - O Método - 1. A Natureza da Natureza - 2a. edição - Portugal - Publicações Europa - America Ltda. -  Titulo Original: La Méthode - 1. La Nature da Nature -  France - 1977- Edition du Seuil.
2-      FRANCELIN, M.M. - A epistemologia da complexidade e a ciência da informação - Ciência da Informação - Ci. Inf. vol.32 no.2 Brasília May/Aug. 2003
3-      MORIN, E- in ibid (2)
4-      Ibidem.
5-      Ibid (2).
6-   IDATTE, P. - Chaves da Cibernética  - Trad. de Álvaro Cabral  - Rio de Janeiro. - Civilização Brasileira - l972.
7-      MORIN, E. - O Enigma do Homem  - 2ª ed. -  Trad. Fernando de Castro Ferro - Rio de Janeiro - Zahar Editores, 1979. p. 34/35.
8-      CLAUSIUS in GUILLAUMAUD, J. - Cibernética e Materialismo Dialético - Trad. do original francês “Cybernétique et matérialisme dialectique” por Juvenal Hahne Junior e Guilherme de Paula  - Rio de Janeiro -Tempo Brasileiro - 1970. p.113.
9-      CÉSARMAN, E. -  Hombre y entropía -  Editorial Pax-México S/A - Primera edición - México, D.F- Febrero de 1974. p. 273.
10-  Ibidem. p. 11.
11-  CHAVES. M.M. - Saúde e Sistemas - Rio de Janeiro - Fundação Getúlio Vargas - 1972.
12-  Ibid.  (9) p.274.
13-  CHAVES. M.M. - Saúde e Sistemas -  Rio de Janeiro - Fundação Getúlio Vargas - 1972.
14-  RAPP, H.R. in D’AZEVEDO, N. C. -  Cibernética e Vida - Ed. Vozes,  1972.
15-  D’AZEVEDO, M.M. -  op. cit. (9).
16-  DAVID, A - Cibernética e o Homem - Lisboa - Univ. Moderna - Publ. Dom Quixote, Lisboa, Trad. de Antônio Reis, Paris - Ed. Gallimard, 1970.
17-  Ibid. (9). p. 2.
18-  Ibidem. p.502.
19-  CHARDIN, P.T. - O Fenômeno Humano - Filosofia  e Religião - 16o. Volume - Porto - Livraria Tavares Martins. 1970.
20-  Ibid. (9) p.1.
21-  Ibidem. p.191.
22-  Ibidem. p.143.
23-  Ibidem. p.503.
24-  Ibidem. p.274.
25-  Ibidem. p.502.
26-  Ibidem. p. 274.


Todos os direitos reservados aos autores
copyright Ó by Edson N. Paim e Rosalda C.N. 

sábado, 25 de junho de 2011

Wanda Horta e Rosalda Paim: Duas teoristas (brasileiras) da Enfermagem, referidas por Águia.jpg.


Em trabalho denominado "Educação, Enfermagem, Cuidado", publicado por Águia.jpg. no item 2 NOVA ENFERMAGEM, lê-se:.

"Em 1978, revisando o pensamento de Vanda de Aguiar Horta, Rosalda Cruz Nogueira Paim conclui pelo fato de que a Teoria das Necessidades Básicas é insatisfatória para orientar os objetivos da assistência de enfermagem: propõe, embora sem superar a lógica hospitalocêntrica e biomedicocêntrica, a Teoria Sistêmica de Enfermagem e, quanto às necesssidades básicas, supera-as pelo conceito de necessidades globais, divididas em gerais e específicas.

Comentãrio:

Aqui cabe uma retificação, apenas quanto ao aspecto cronológico, uma vez que Rosalda Paim defendeu esta e outras idéias, em tese de Livre Docência, aprovada pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RIO), em 1974, cuja cópia fo registrada e, necessariamente, depositada no Ministério da Educação e Cultura.

Esta divergência decorre do fato de que a referência fora baseada em livro de Rosalda Paim, editado em 1978 (não mencionado na versão publicada na Internet, por nós compulsada), embora em todas as publicações da autora, se encontre a afirmação constante do parágrafo anterior, omitida, inadvertidamente, por Águia.jpg. no trabalho citado.

Face à pertinência, publicamos, a seguir: 

"Princípio da Resposta às Necessidades da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem (Rosalda Paim)


Princípios da Resposta às Necessidades

                 Os cuidados de enfermagem representam a respostas a uma gama de necessidades gerais e específicas (sentidas ou não) do ser humano (família, comunidade), de alçada do enfermeiro e sua equipe, as quais variam, segundo a faixa etária, o estágio da evolução do processo saúde/doença, condições hereditárias, ambientais e socioculturais, aspectos da universalidade e da individualidade das pessoas e, de situações particulares em que se encontrem.

                 Estas necessidades podem ser sintetizadas e traduzidas como carências de intercâmbios de “matéria, energia e informações”  

                 A fim de se prestar adequados cuidados de enfermagem ao ser humano, devem ser identificadas as condições de aportes, transportes, alterações do metabolismo, deficiências de eliminações (retenções) de matérias no organismo, condições de equilíbrio energético e de relações com o ambiente (intercâmbio de matéria, energia e informações).
                
                 Estas condições são identificadas através da coleta de dados (anamnese, exame físico e exames complementares), particularmente os laboratoriais que expressam a normalidade ou modificações das constantes químicas e físicas que caracterizam os desvios da homeostasia do interior do organismo e as relações de intercâmbio com o seu entorno, que inclui o processo comunicativo da pessoa assistida com e seus familiares com o cuidador.

- Do Livro "Teoria Sistêmica Ecológica de Enfermagem" - 2a. edição

(Direitos autorais reservados à autora"

Voltemos à publicação de Águia.jpg:    

"As bases lógica, metodológica e epistemológica do pensamento tanto de Vanda de Aguiar Horta quanto de Rosalda Paim são a história da doença (campo da Antropologia Médica) e a história dos sinais e sintomas de doenças (campo da Semiologia e da Sintomatologia Médica). Talvez por isso, apesar da Teoria Sistêmica de Enfermagem (uma aplicação dos princípios da Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig von Bertalanffy), a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) mantém-se no Brasil moldada na história da doença ou no conceito negativo de saúde e na historiografia da doença por sinais e sintomas das mesmas presentes em fragmentos do corpo.

OUTRO COMENTÁRIO:


                 Possuidora de curso de especialização da FIOCRUZ, o famoso Curso de Aplicação de Manguinhos (Iniciação à Pesquisa Científica e, Enfermeira de Saúde Publica e Hospitalar, além de docente de Enfermagem Materno Infantil, Rosalda Paim responde ao questionamento contido no parágrafo supra, pois um dos Princípios da sua "Teoria Sistemica de Enfermagem" (rebatizada como "Teoria Sistêmica Ecológica" e, depois "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem") é exatamente o "Princípio da Assistência Preventiva", mediante o qual introduziu na teorização da Enfermagem, os cinco níveis de prevenção de Leavell & Clark d, cujo enunciado é o seguinte:

Princípio da Assistência Prevetiva

            Todo e qualquer processo assistencial à saúde deve ser considerado como atividade preventiva, atuando-se segundo os níveis de prevenção estabelecidos por Leavell & Clarkl5: Promoção da Saúde, Proteção Especifica, Diagnóstico e Tratamento Precoce, Limitação do Dano e Reabilitação, não devendo, em conseqüência, haver dicotomia entre os procedimentos de assistência de saúde de natureza preventiva e curativa.

                      Consequentemente, não deve haver dicotomia entre a assistência de enfermagem de caráter curativo e a de natureza preventiva. O enfermeiro deve se constituir, predominantemente, em um profissional da saúde e não num profissional da doença, mas para isto se exigem conhecimentos profundos de Fisiologia, além da segurança, com que deve dominar os conteúdos das outras disciplinas ministradas nas Faculdades de Enfermagem ou em cursos de especialização e pós-graduação.
Em qualquer nível em que atue, o enfermeiro deve integrar sempre o processamento das atividades preventivas e curativas, com ênfase no enfoque de uma assistência global, “sistêmica”, holística.
As ações de enfermagem devem ser exercidas em qualquer situação, sempre e simultaneamente, quanto à promoção, proteção e recuperação da saúde.  
Qualquer que seja a natureza da instituição e o nível de sua especialização, a assistência de enfermagem deve sempre ser prestada nos níveis de promoção, proteção e recuperação da saúde.
A assistência de enfermagem ao indivíduo (família, comunidade) deve ser permanente e contínua, tanto na situação de doença como na de higidez.
As ações de enfermagem, em relação ao paciente hospitalizado, devem ser ininterruptas, durante as vinte e quatro horas do dia. (Princípio da Assistência Contínua, da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem)."
Voltemos ao artigo comentado:

"Nos anos da década de 1990, Nébia Maria Almeida de Figueiredo e seus colaboradores, declaram a insatisfatoriedade da Teoria das Necessidades para orientar os objetivos do cuidado de enfermagem: propõem, então, as coordenadas Necessidades e Desejos, buscando a construção de uma Estética do Cuidado, fundada em sinais, sintomas e signos no corpo e do corpo.

Apesar dos esforços vigentes para construir uma Ciência Sensível que antecipe, abarque e ultrapasse uma Ciência da Assistência fundada em necessidades por deficiências e carências, mantém-se no Brasil os moldes do pensamento de Vanda de Aguiar Horta como se experiências e pesquisas atuais não estivessem demonstrando os seus limites e inadequações.

Já, no mesmo trabalho, no item 3. CONCEITO DE NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS, consta:

"NECESSIDADES. do latim necessitas, necessitatis, inevitável, inelutável, destino, fatalidade, indispensável.

Na qualidade daquilo que é indispensável, essencial, sem o qual a condição e a situação disso ou daquilo está estruturalmente comprometida, necessidade não se sinonimiza aos conceitos de preferência, aspiração, compulsão, desejo, motivação, privação, demanda, expectativa, esperança.

Necessidade é estrutura para a condição de; não resulta de carência ou de deficiência.

Importante contribuição ao entendimento do conceito necessidade é a introdução do conceito de sérios prejuízos da Teoria das Necessidades Básicas de Doyal e Gough , assim comentado por Potyara A. P. Pereira, em sua obra "Necessidades Humanas":
[sérios prejuízos] são impactos negativos cruciais que impedem ou põem em sério risco a possibilidade objetiva dos seres humanos de viver física e socialmente em condições de poder expressar a sua capacidade de participação ativa e crítica. São, portanto, danos cujos efeitos nocivos independem da vontade de quem os padece e do lugar ou da cultura em que se verificam."

Em suma, o critério para a presença de uma necessidade é indagar se, na sua ausência ou comprometimento de sua satisfação, existirão sérios prejuízos à coisa ou à pessoa a que se quer atribuir aquela necessidade.

Na noção de sérios prejuízos poderão ser incluídos os conceitos de agravos, riscos e danos.

3.1. NECESSIDADES BÁSICAS
Necessidades básicas são necessidades universais tanto humanas quanto animais, sem as quais a estrita condição física está sob ameaça de danos ou de sérios prejuízos; são condições fundamentais sem as quais o animal e o ser humano que também é animal estão sob ameaça manifesta ou potencial de danos ou "sérios prejuízos" de sobrevivência.

O modelo de Necessidades Humanas Básicas de Vanda Horta, transliterado da Teoria da Motivação Humana de Abraham Maslow, refere-se às necessidades básicas e não às necessidades humanas básicas: ainda que, teoricamente se fale em necessidades de segurança, de amor e pertinência, de estima e de auto-realização, o modelo aplicado daquela teorista é usado quase exclusivamente no espaço hospitalar, limitando-se ao atendimento de necessidades fisiológicas; as demais estão subvertidas para atender às necessidades institucionais e às necessidades da medicina.

3.2.NECESSIDADES DE CUIDADO
O conceito necessidades de cuidado é registrado por Maria Lúcia Gonzaga e Helotíta Neves Arruda; dele derivam os conceitos de necessidade cuidado satisfeitas, necessidades de cuidado insatisfeitas, cuidado atual, cuidado desejado, cuidado recebido, fontes de cuidado, significados de cuidado.

A relevância epistemológica desse estudo é abandonar ou talvez relativizar o foco do processo de cuidar no conceito de necessidades humanas básicas e centralizá-lo no conceito de necessidades de cuidado; com esta mudança de foco, torna-se possível e real discurso de que o cuidado é, conforme as próprias afirmam, o foco central, dominante e unificador da Enfermagem.

Na pesquisas das autoras com pessoas em idade infanto-juvenil identificam:
a) Significados de cuidado: alegria, satisfação, tranquilidade/paz, presença de alguém, ambiente confortável.
b) Necessidades de cuidado satisfeitas: melhora (no estado de saúde da pessoa), interação (entre pessoa cuidada e pessoas cuidadoras), segurança, ser bem cuidada profissionalmente, ambiente confortável, satisfação.
c) Cuidado desejado: alegria, tranquilidade/paz, confiança, saúde, educação (no sentido de cuidador amoroso, compreensivo, afetuoso), ambiente adequado.
d)Cuidado recebido: é a necessidade de cuidado satisfeita.
e)Necessidades de cuidado insatisfeitas: presença de alguém, alívio de sintomas, procedimentos profissionais/éticos, reassumir funções (deixadas devido à hospitalização e à doença), ambiente adequado.

3.3. NECESSIDADES ESPECIAIS DE CUIDADO
Proposição conceitual diferente do conceito de necessidades especiais para pessoas portadoras de deficiências; necessidades especiais de cuidado quer conhecer e reconhecer eficiências especiais onde erradamente se vê deficiências.

3.4. NECESSIDADES EXCLUSIVAMENTE HUMANAS
Erich Fromm (1900-1980) introduz o conceito de necessidades exclusivamente humanas definido como necessidades nascidas da condição humana: necessidade de relação ou de unir-se e relacionar-se com outros seres vivos, satisfeita de duas formas básicas -relacionamento ou narcisismo; necessidade de transcendência ou de superação da condição de criatura, satisfeita mediante a tendência destruidora ou tendência criadora; necessidade de arraigamento ou de construir raízes humanas, satisfeita mediante laços de fraternidade ou de incesto; necessidade de um sentimento de identidade ou de saber-se ser a si mesmo e vincular-se, satisfeita mediante a formação de individualidade ou conformidade gregária; necessidade de uma estrutura de orientação e vinculação ou de orientar-se intelectualmente no mundo em que vive, satisfeita mediante a razão ou a irracionalidade.

Das cinco diferenças básicas entre animalidade e humanidade defendidas pelas necessidades exclusivamente humanas, propostas e sistematizadas por Erich Fromm, proponho as seguintes necessidades humanas básicas:
necessidade permanente de cuidado, do nascimento à morte, sem o qual a pessoa não sobrevive;
necessidade permanente de relacionamento;
necessidade permanente de transcendência;
necessidade permanente de arraigamento;
necessidade permanente de sentimento de identidade;
necessidade permanente de uma estrutura de orientação e vinculação.

Além das necessidades permanentes e exclusivamente humanas, a pessoa partilha com os animais as necessidades permanentes fisiológicas, apesar de que com referência ao humano sejam culturalmente modificáveis, diversas e diferenciadas no modo de satisfazê-las: necessidade de nutrição (incluindo hidratação), necessidade de eliminação (intestinal, renal, pulmonar, tegumentar), necessidade de oxigenação, necessidade de atividade e repouso, necessidade de abrigo.


3.5. NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS

A.Necessidades Humanas Básicas (NHB) são condições exclusivamente humanas e universais sem as quais a pessoa está sob ameaça manifesta ou potencial de danos ou de "sérios prejuízos" à sua condição histórico-sócio-humana.

B. Len Doyal e Ian Gough, em 1991, defendem duas necessidades humanas básicas, satisfeitas sempre em nível coletivo, e onze necessidades intermediárias ou "satisfadores universais".

-Necessidades básicas: saúde física e autonomia. Saúde física envolve as necessidades quimiobiofisiológicas; autonomia envolve saúde mental, habilidade cognitiva, oportunidade de participar.

-Necessidades intermediárias ou "satisfadores universais": alimentação nutritiva e água potável; habitação adequada; ambiente de trabalho desprovido de riscos; ambiente físico saudável; cuidados de saúde apropriados; proteção à infância; relações primárias significativas; segurança física; segurança econômica; educação apropriada; segurança no planejamento familiar, na gestação e no parto.

Para Abraham Maslow (1908-1970), a motivação humana estrutura-se em necessidades humanas básicas hierarquizadas e nascidas por deficiências ou carências e em metanecessidades ou necessidades de crescimento não hierárquicas.

A hierarquia das necessidades humanas básicas, segundo Maslow:
1. Necessidades fisiológicas
2. Necessidades de segurança
3. Necessidades de amor próprio e propriedade
4. Necessidades de estima e mérito
5. Necessidades de auto-realização.

As metanecessidades ou necessidades de crescimento caracterizam-se por serem não hierárquicas, substituirem-se umas às outras, inerentes à pessoa humana, quando não satisfeitas geram doenças chamadas de metapatologias (alienação, angústia, apatia, cinismo). Entre outras metanecessidades, estão: justiça, bondade, beleza, ordem, unidade.

O padre João Mohama adota a concepção de motivação humana de Abraham Maslow, reagrupando as suas necessidades sob a denominação de necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais. Esta redenominação é a utilizada por Vanda de Aguiar Horta."

A publicação volta a se referir à Rosalda Paim, no seguinte trecho:

"Rosalda Paim explicita as necessidades humanas básicas de Vanda Horta e segundo a denominação de João Mohama e concepção de Abraham Maslow.
- Necessidades psicobiológicas: oxigenação; nutrição; hidratação; eliminação; sono, repouso; exercício, atividades físicas; abrigo, vestuário, motilidade, locomoção; cuidado corporal, ambiente seguro, percepção sensorial, regulação dos diversos aparelhos e sistemas, mecânica corporal, integridade física, integridade cutâneo-mucosa e terapêutica.
- Necessidades psicossociais: amor, segurança, expressão criadora, reconhecimento, novas experiências, auto-estima, comunicação, liberdade, gregarismo, recreação no tempo e espaço, auto-imagem.
- Necessidades psicoespirituais: equilíbrio religioso, religiosidade, fé ou crença."

Prossegue a publicação:

Dessa concepção nasce o conceito de assistência de enfermagem, estruturada nas necessidades humanas básicas afetadas, segundo o modelo acima referido, e adotada na Enfermagem Hospitalar.

Geralmente na Enfermagem Hospitalar, o esquema de necessidades básicas para composição do Histórico de Enfermagem segue os seguintes itens: nutrição e hidratação; eliminações; cuidado corporal; locomoção; exercício e atividades físicas; sono e repouso; constelação familiar e social; religião; recreação.

Atualmente e fora do eixo da enfermagem hospitalar, sugere-se o Histórico de Cuidado estruturado nos Domínios de um dos Sistemas de Classificação (de Diagnósticos, de Intervenções ou de Resultados), ou, ainda, o esquema de Padrões de Saúde Funcionais de Marjorie Gordon. Nessa sugestão, o eixo da atenção de cuidado se amplia e exige revisão teórico-metodológica sobre o conceito de necessidades humanas básicas e necessidades básicas afetadas, introduzido na Enfermagem na década de 1970."

                     Em contimuação, a matéria em tela, novamente e, por derradeiro, volta a se referir à teorista capixaba, por nascimento e, "cidadã fluminense", título outorgado peka Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, por proposta da Deputada Graça Matos, para homenagear a sua colega da Legislatura anterior, a qual ostenta, também, o galardão de ser a "Primeira Parlamentar Enfermeira do Brasil".

Eis o que publica Águia.jpg:  

"Rosalda Paim rejeita a Teoria das Necessidades Básicas como base para a assistência de Enfermagem, introduzindo princípios referentes aos conceitos de Necessidades Gerais e Necessidades Específicas: as primeiras são comuns a todos os tipos de pessoas hospitalizadas; as segundas são decorrentes da patologia de que a pessoa é portadora."

Assim, é concluída a publicação em tela:  

"Na Enfermagem de Saúde Pública tem sido proposto o mesmo modelo de Necessidades Humanas Básicas, referenciado por Vanda de Aguiar Horta: supostamente aplicando a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem de Saúde Coletiva (CIPESC), um grupo de enfermeiras aplica na rede de saúde pública o esquema de necessidades psicobiológicas (oxigenação, hidratação, nutrição, eliminação, sono e repouso, exercício e atividades físicas, sexualidade, motilidade, cuidado corporal, integridade cutâneo-mucosa, regulação vascular, regulação imunológica, percepção, ambiente, terapêutica, reprodução, crescimento e desenvolvimento); de necessidades psicossociais (segurança, liberdade, aprendizagem, gregária, recreação, autoestima, participação, autoimagem); e de necessidades psicoespirituais."

Fonte: http://www.historiaecuidado.xpg.com.br/5.html

(Edson Nogueira Paim escreveu)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Trabalhos de Edson Paim e Rosalda Paim, publicados em Portugal

SAPO SABER (Portugal) publica a matéria intitulada

PERSPECTIVA CIBERNÉTICA

Edson Paim 
                   
                   Rosalda Paim
 
CONFIRA!
Clique no seguinte LINK: 


http://saber.sapo.mz/wiki/Perspectiva_Cibern%C3%A9tica

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Missa no Rio de Janeiro lembra 7° ano sem Leonel Brizola

O 7° aniversário da morte de Leonel Brizola será lembrado nesta terça-feira, 21 de junho, às 11 horas da manhã, com missa no Rio de Janeiro na Igreja de São Benedito dos Homens Pretos, na rua Uruguaiana – esquina com rua do Rosário – no Centro da cidade - mandada celebrar pela direção estadual do PDT-RJ e o Ministro Carlos Lupi.

domingo, 19 de junho de 2011

Mecanismos cibernéticos da fisiologia humana

No organismo humano, como nos demais seres vivos, os processos fisiológicos são controlados por mecanismos cibernéticos. 

Na definição de Rosalda Paim, cibernética é "a ciencia que trata da circulação de informações e dos mecanismos de comando, regulação e controle, no ser vivo, na máquina e na sociedade". 

No que tange ao organismo humano, destacamos o seguinte trecho do seu livro "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", segunda edição: 

 "Informações e Mecanismos Cibernéticos (Integração, Regulação e Controle): 

A maior parte dos sistemas de integração, regulação e controle do organismo funciona por mecanismos cibernéticos, os quais operam através de dispositivos de retroalimentação ou “feedback” negativo, isto é, efetuando reajustes mediante a entrada de novas informações no processo (“ïnput”), em função dos erros de saída (“output”), isto é, realizando a “correção por meio do próprio erro”. Para esta finalidade, o organismo possui inúmeros de dispositivos cibernéticos (de regulação por retroalimentação ou “feedback”)".

Entre os inúmeros  exemplos apresentados, destacamos o seguinte:

"Regulação e Controle da Glicemia por Mecanismo Cibernético  Hormonal - Respostas a Informações Mediadas por Concentrações de Substâncias: 
Por ocasião de sua ingestão, a glicose representa, ainda na cavidade bucal, uma carga de informação ou estímulo de natureza gustativa. Uma ingestão excessiva de glicídios ou mesmo de outros alimentos, provoca um aumento da glicemia. Esta elevação da concentração de glicose no sangue (hiperglicemia pós-prandial) e o próprio nível glicêmico corresponderá a codificação de uma mensagem, cujo canal de transmissão é o sangue, enquanto células pancreáticas, funcionando como receptores específicos, situados no pâncreas (células alfa das ilhotas de Langherans), captam e interpretam (decodificam) a mensagem, cuja resposta é a inibição da síntese e da secreção do seu hormônio - o glucagon.   
Concomitantemente, esta  mesma informação é também captada e decodificada por receptores, também específicos, localizados nas células beta das mesmas ilhotas de Langherans, cuja estimulação ensejará uma resposta, a qual será uma maior produção de outro hormônio, a insulina, que atuará nas membranas das células de todo o corpo, aumentando sua permeabilidade e, assim, favorecendo a absorção de glicose e o conseqüente incremento  de seu consumo como fonte de energia, decorrente do aumento do metabolismo celular, resultando na diminuição da glicemia. 
Ao mesmo tempo, na vigência de um teor de glicose acima dos limites normais (hiperglicemia), acrescido da elevação do nível de insulina (insulinemia) e da diminuição do nível de glucagon no sangue, estes fatores correspondem a uma carga de informações ao fígado que, em resposta, seqüestra a glicose do sangue e, mediante um processo de síntese (anabolismo), denominado glicogênese, a converte em glicogênio, um polímero da glicose, desta forma reduzindo a glicemia, até restabelecer o nível homeostático  (normoglicemia). 
O glicogênio e armazenado no próprio fígado, constituindo uma reserva, transformável em energia, de acordo com a necessidade. Por outro lado, o metabolismo basal, acrescido das atividades laborativas e da ausência prolongada da ingestão de alimentos, produz hipoglicemia.
Quando a concentração de glicose diminui a níveis abaixo do normal (hipoglicemia), esta situação, além de acionar o mecanismo da fome, funcionará, também como mensagem, para as células beta, cuja resposta  a este estímulo é a inibição da produção de insulina para “economizar” o consumo de glicose e buscar manter níveis homeostáticos da glicemia, ao mesmo tempo em que constitui mensagem para as células alfa, cuja resposta é o aumento da elaboração de glucagon. 
A insulina funciona como um mecanismo de gangorra em relação ao glucagon: quando um aumenta o outro diminui e vice-versa. 
Os níveis aumentados de glucagon veiculam mensagem que provoca como resposta, uma atividade analítica (catábolica) do fígado (sob a ação do glucagon), isto é, a “quebra” das moléculas de glicogênio hepático, isto é, o desdobramento (despolimerização) ou conversão do glicogênio em moléculas livres de glicose (glicogenólise), também, com a finalidade de manter níveis adequados de glicemia para atender às necessidades do organismo, as quais são conduzidas pelo sangue (transporte), até à intimidade celular (aporte celular), onde sob a ação do oxigênio e de enzimas específicas, é queimado (oxidado), constituindo o fenômeno de respiração celular (catabolismo), produzindo energia e, tendo como subprodutos, água e dióxido de carbono (CO2). 
Estes efeitos homeostáticos são resultantes de um sistema informacional do organismo (trocas de informações), mediado por matéria (concentração de substâncias) que aciona um mecanismo cibernético de retroação (“feedback” negativo), cujos estímulos aos órgãos receptores são mediados por concentrações de substâncias, provocando uma resposta, expressa por “trocas de matéria”, como exemplificado acima (caso do pâncreas), ou mesmo, por “trocas de matéria e energia”.



Rosalda Paim apresenta, no mesmo livro, variados exemplos, como este, de funcionamento cibernético do organismo humano, instaurando a "fisiologia cibernética" (mesmo porque a cibernética, na verdade, nasceu da fisiologia) e introduziu o mecanismo de "feedback" e, portanto, a cibernética na enfermagem, criando a "enfermagem cibernética", ao designar a sua teoria como "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", entre cujos Princípios, inclui o:

"Princípio da Enfermagem Cibernética

                  Em um universo em continuo e permanente processo de transformações, a ciência de Enfermagem, o sistema de Enfermagem e o Processo Assistencial de Enfermagem devem adotar e acionar o dispositivo Cibernético de "retroação" (feedback) para se reajustar ou readaptar constantemente aos avanços científicos, tecnológicos e sociais de cada época, para atender às necessidades  de  cada paciente (família, comunidade, sociedade),  em cada instante considerado.

     Corolário:
    
     - O dispositivo Cibernético de "retroação" ou “feedback” deve ser usado permanentemente em relação à Assistência de Enfermagem, à Educação em Enfermagem, à Administração de Enfermagem ou à Pesquisa de Enfermagem, às Associações de Enfermagem ou a outra qualquer atividade da profissão, ao perfil, às funções e atribuições do Enfermeiro, do Técnico ou do Auxiliar de Enfermagem.

      - O modelo de processo de enfermagem, apresentado no mesmo livro, adota tal mecanismo de retroação (feedback), com a finalidade de introduzir reajustes ante processo, in-processo e pós-processo, em razão das diferenças entre o esperado resultado do desempenho e aquele realmente atingido, ou seja, em função da análise dos objetivos e da qualidade do produto final do sistema.
     A qualidade do produto final do sistema de enfermagem - a assistência de enfermagem - deve atender,  simultaneamente, às expectativas do consumidor desse serviço (clientela), de sua família do sistema de enfermagem, do  sistema de saúde, da comunidade,  do sistema social e do próprio enfermeiro.
     O modelo de sistema de enfermagem, aqui proposto, tem como paradigma os sistemas auto-organizadores e auto-reguladores (sistemas cibernéticos), como os organismos vivos e os ecossistemas naturais, interagindo entre si e processando o intercâmbio de matéria, energia e informações.
      Tal como ocorre em um subsistema de controle de produção de uma empresa, em que seu processo administrativo é controlado pelo cérebro humano, um sistema de enfermagem, ao adotar um modelo cibernético de processo, adquire a semelhança interna geral com uma criatura viva, completada pelos seus reflexos (estímulos e respostas que surgem nele), cujo cérebro e representado pelo próprio enfermeiro.
      Na Enfermagem Cibernética, o processo de enfermagem (dinâmica do sistema), coerente com o modelo proposto, o "Modelo Cibernético de Processo de Enfermagem", tem  como "cérebro" o próprio enfermeiro (mecanismo sensor, de interação, de respostas e reajustes) o que torna, assim, este processo  "automatizado".    
     Um processo assistencial de enfermagem, para ser Cibernético, teleológico, deve conter uma definição clara e precisa dos seus objetivos, além de possuir um sistema de avaliação e um dispositivo de  retroação (reajuste), capaz de permitir, constantemente, correções necessários, isto é, o controle permanente do sistema.
     A dinâmica e funcionamento (“fisiologia”) do Sistema de Enfermagem, no sentido da consecução do seu "telos", constituem o respectivo processo. 
    Portanto, a dinâmica e interrelações entre os vários procedimentos necessários à prestação de assistência de enfermagem às pessoas (família, comunidade) constituem o processo de enfermagem.
     Qualquer sistema necessita de processadores e responsáveis pela sua higidez e funcionamento.
     Para o processamento dos cuidados de enfermagem, um tipo particular de assistência prestada ao ser humano, exige-se um profissional altamente diferenciado e qualificado - o enfermeiro.

     O enfermeiro é membro integrante da equipe de agentes do aparelho prestador de assistência de saúde ao homem, à família, à comunidade  e à sociedade.
     
"ENFERMEIRO" é o profissional capaz de satisfazer os requisitos estabelecidos pelo sistema legal do respectivo país para o uso do título e exercício da profissão, de realizar a consulta (diagnóstico e prescrições de enfermagem), executar (cuidar), coordenar e controlar (mediante avaliação e reajustes) o processo de enfermagem e encaminhar o homem (família), para receber assistência de privativas de outros profissionais ou de outras instituições, atuando no sentido de promover ou concorrer para a manutenção ou restauração da homeostasia do "sistema humano", de seus metassistemas (família, comunidade, sociedade) e dos respectivos sistemas ambientais, bem como do próprio sistema de enfermagem, do sistema de saúde e do sistema social em que estes se inserem.
  
      A esta altura, precisamos e já podemos definir a enfermagem: 

   ENFERMAGEM é a ciência, a arte e uma prática social que trata do diagnóstico das necessidades de saúde, do planejamento, execução (cuidar), coordenação e controle (avaliação e reajuste) do processo assistencial de enfermagem, atuando sempre e, simultaneamente, sobre o ser humano (família, comunidade, sociedade), abrangendo o ambiente, com a finalidade de promover, preservar e restaurar a saúde.
    
Face ao sistema discursivo da "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", poderíamos traduzir:
ENFERMAGEM é a ciência, a arte e uma prática social que trata do diagnóstico das necessidades de saúde, do planejamento, coordenação, execução (cuidados) e controle (avaliação e reajuste) do processo de enfermagem ao atuar sempre e, simultaneamente, sobre o sistema humano (pessoa sadia ou doente) e seus metassisstemas (família, comunidade, sociedade) e o entorno, com a finalidade de promover, preservar e restaurar a otimização da homeostasia do processo de intercâmbio de matéria, energia e informações entre o sistema em causa e o seu ecossistema."

(Edson Nogueira Paim escreveu) 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prefácio do Livro "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem" - por *José Raymundo Martins Romêo



PREFÁCIO DESTA  EDIÇÃO

                      
                                         * José Raymundo Martins Romêo


                 Prefaciar um livro constitui privilégio e honra. Esta cuidadosa publicação expressa o sentido universitário da ilustre Professora Rosalda Paim. Seu vigor intelectual produziu Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem - Uma Visão Holística da Enfermagem. Sua obra encerra uma busca de novos caminhos, promove ruptura com o paradigma condicionante da Enfermagem. Empenha-se em reduzir barreiras profissionais e melhor situar a importância do universo da profissão que exerce, ensina, engrandece e sempre valoriza.
                 Há na autora admirável perseverança no seu ideal. Coerente e congruente, deixa marcas do seu pensar e agir. Não se limita ao saber acumulado, projeta-o. Amplia suas dimensões. Desenvolve um típico trabalho universitário. Quer o ensino pleno, a pesquisa inovadora que a extensão ratifica, com resultados favoráveis, idéias que considera devam ser analisadas e debatidas para promover mudança e transformação.
                 Deseja fazer revisão de conceitos que cerceiam e podem limitar a profissão. Traz para a sua visão panorâmica, geral e holística, argumentos encontrados, de forma sistêmica, em diversas áreas do saber. Conjuga argumentos da fisiologia e da ecologia - o que denomina fisioecologia. Dá ênfase às trocas de matéria, energia e informações que se processam entre o Sistema Humano e o Ambiente.
_____________________________________________________
         * Ex-Reitor  da  Universidade  Federal  Fluminense

                      Valoriza a força vital (superando-a pela negentropia) e ressalta, em síntese, a expressão de Florence Nightingale: Colocar o paciente em condições em que a natureza possa atuar”.
A ilustre Professora Rosalda Paim impressionou-me quando de  meus  períodos  como  Reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF),
                 É dotada de benéfico inconformismo, impregnado de exemplar espírito universitário. 
                 A leitura leva-nos a reflexões sobre o mundo sistêmico no qual estamos inseridos.
                 Enriquece quem toma conhecimento das idéias que expõe com entusiasmo e competência profissional.
                 Líder, a Professora Rosalda Paim enveredou também pelos caminhos árduos da Política, não por interesse pessoal, mas procurando o bem comum e a valorização da nobre profissão de Enfermagem. 
O presente livro, leitura obrigatória por quantos desejam situar a Enfermagem como Ciência, será certamente base para obra mais ampla, não referida apenas à Enfermagem, mas relacionando a Ciência e Meio Ambiente.
                 Privilégio e Honra. Privilégio por ter acesso a essa obra, difícil porque inovadora, meritória porque pioneira. Honra por poder expressar minha admiração por esta figura exponencial da Universidade Federal Fluminense, a Professora Rosalda Paim.
                 “Teoria Sistêmico-Ecológica de Enfermagem - Uma Visão Holística da Enfermagem” é obra à imagem e semelhança  de sua autora, Rosalda Paim. Criativa, moderna, ousada, científica, mas, sobretudo instigante, é obra maior, contemporânea do Futuro.

domingo, 5 de junho de 2011

SISTEMISMO ECOLÓGICO CIBERNÉTICO (Edson Paim & Rosalda Paim)

EXTRAÍDO DO LIVRO

Sistemismo Ecológico Cibernético

Autores:

               Edson Paim 

                                   Rosalda Paim

Este livro trata de um paradigma de natureza abrangente, integrativa, holística - o Sistemismo Ecológico Cibernético - que corresponde ao Sistemismo ampliado, construído com alicerce em quatro pilares principais: Teoria Geral dos Sistemas, Cibernética, Teoria da Informação e Ecologia, constituindo-se, assim, uma metodologia de caráter multi-referencial. 

O primeiro capítulo trata do enfoque sistêmico ou Sistemismo, um quadro de referência, baseado na Teoria Geral dos Sistemas, de Lwidg von Bertalanffy. 

O segundo concerne à Visão Ecológica, aspecto que não deve ser negligenciado na abordagem de qualquer sistema, de natureza física, biológica, social ou tecnológica, pois todos eles inter-relacionam e interagem com o ambiente (ecossistema), através de contínuos intercâmbios de matéria, energia e informações entre ambos, afetando-se mutua e continuamente. 

O capítulo terceiro refere à abordagem sistêmica ecológica ou Sistemismo Ecológico, formado pelo acoplamento da Teoria Geral dos Sistemas e da Ecologia. O quarto capítulo aborda a perspectiva cibernética, fundamentada em um ramo do conhecimento, integrante da Teoria Geral dos Sistemas - a Cibernética - definida como a “ciência das comunicações, do comando e do controle, no homem, na máquina e na sociedade”. 

As virtuosidades da Cibernética são ampliadas, mediante a inclusão da Teoria da Informação, no seu bojo. 

O Capítulo quinto procura articular os conceitos Vida, Informação, Entropia e Negentropia e Sistemas Sociais, isto é, a entropia das organizações humanas. 

Entende-se a Entropia como uma tendência no sentido da desorganização e extinção dos sistemas, mas sobre a qual os seus podem exercer esforços no sentido oposto - ação negentrópica - com o fito de evitar sua desestruturação e finitude, objetivando alongar o seu período de existência ou até tentar perenizá-las. 

O sexto Capítulo trata da conjunção da Teoria Geral dos Sistemas, da Cibernética e da Teoria da Informação, ao que designamos Sistemismo Cibernético Informacional e que Morin refere como a “trindade profana”. 

A Cibernética dos Sistemas Vivos é enfocada no sétimo capítulo, referindo-se à existência de mecanismos de controle e de reajustes automáticos (“feedback”) nos organismos vivos e, o oitavo apresenta a Dialética dos Sistemas Vivos, porta de entrada para o nono - Dialética Cibernética, - contendo propostas dos autores, baseadas nos conflitos entre os sistemas e o seu ambiente (ecossistema) e, nos antagonismos existentes entre a entropia e seu par antagônico (dialético) - a negentropia - além de se fundamentar na oposição entre o calor e o frio, entre os processos de oxidação e redução, entre a saúde e a doença e, entre a vida e a morte. Entende-se a entropia como uma tendência universal, inexorável, para o resfriamento, nivelamento energético, para a mesmice, para a catamorfose, indiferenciação, incluindo a morte biológica ou física dos sistemas, enquanto que a negentropia (entropia negativa), representa uma contra corrente à lei geral da entropia. Guillaumaud, em seu livro que se intitula “Cibernética e Materialismo Dialético”, atesta o caráter dialético do mecanismo de retroação ou retroalimentação (“feedback”), um atributo universal dos seres vivos e um dos fundamentos da Cibernética, capaz de reforçar a nossa proposta de uma Dialética dos Sistemas Vivos e, de uma Dialética Cibernética. 

Os nove capítulos referidos, que se pretende estarem inter-relacionados, interligados, entrelaçados, integrados, como uma malha, uma rede, uma teia de idéias, fundamentos, conceitos e princípios, constituem o alicerce do Sistemismo Ecológico Cibernético - o Sistemismo ampliado - constantes dos capítulos X a XII. 

O capítulo seguinte - o décimo - Sistemismo Ecológico Cibernético e Sistemas Sociais refere a uma aplicação prática do paradigma sistêmico-ecológico-cibernético, abordando os sistemas sociais abertos, democráticos, cuja essência é a utilização de mecanismos de “feedback”, capazes de permitir o funcionamento equilibrado, harmônico, em toda a sua plenitude.

Este referencial possui um caráter abrangente, integrativo, holístico, elaborado segundo um paradigma que se inspira no modelo de organização dos seres vivos e dos ecossistemas naturais, sobretudo, na estrutura sistêmica do genoma humano e, no funcionamento cibernético do nosso cérebro, portanto, os atributos da consciência. 

Esta proposta dos autores, cujo objetivo inicial era servir de alicerce ou base filosófica para a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, elaborada por um de nós (Paim, Rosalda - 1974), em virtude da sua ampliação, resultou no Sistemismo Ecológico Cibernético, um referencial destinado a atender a propósitos mais amplos. 

  O paradigma sistêmico-ecológico-cibernético proposto é passível de aplicação a todo e qualquer sistema, seja de natureza física, biológica, social ou tecnológica, mercê destes possuírem, como denominador comum, os atributos universais dos sistemas, entre os quais:

1) - os sistemas são conjuntos de partes interligadas e inter-relacionadas, atuando conjuntamente, para a consecução de objetivo característico; 

2) - os sistemas estão inseridos no ambiente;

3) - a totalidade dos sistemas abertos efetua contínuas trocas com o seu ambiente imediato;

4) - Os intercâmbios entre cada sistema e o seu ambiente podem ser sintetizados como trocas contínuas e permanentes de matéria, energia e informações entre um e outro, afetando-se mutuamente, isto é, sofrendo, em conseqüência, influências recíprocas. 

Um determinado sistema, acrescido dos seus arredores, por sua vez, constitui outro sistema, de maior amplitude e, de natureza mista: o conjunto sistema-ambiente, que pode ser designado universo - com u minúsculo - para não confundir com Universo, o sistema cósmico. 

A Teoria Geral dos Sistemas e o Sistemismo Ecológico Cibernético podem ser aplicados tanto ao estudo de uma empresa, de automóvel ou do próprio ser humano, quanto de um município, de um estado, de um país, ou de qualquer um dos seus subsistemas, incluso o respectivo ambiente - também um sistema. 

O que os sistemas apresentam em comum é o fato de compartilharem de características como as de totalidade, abrangência, integralidade e inter-relacionamento entre suas partes integrantes e, de efetuarem intercâmbios de “matéria, energia e informações” com o ambiente. 

O fato de corresponderem a sistemas sintetiza os atributos comuns a todos eles, a menos que se o considere finito. 

O próprio planeta Terra e, mesmo o Universo inteiro, por constituírem sistemas, podem ser visualizados por este prisma, considerando-se, entretanto, que o Sistema Universal corresponde ao único sistema sem ambiente, pois não se pode conceber a existência de algo em seu redor.

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